PM
diz que foi recebida a tiros; familiares das vítimas negam
Sentada em uma das
escadarias, a tia de Alexandre dos Santos, 20 anos, um dos moradores mortos pela
Polícia Militar na madrugada desta terçai-feira (1), na Gamboa, diz com
veemência que não houve troca de tiros. "Eles pegaram um por um. Foi uma
execução", declarou Luciana Gomes, 41.
Segundo ela, o
sobrinho, o vendedor ambulante, Cauê Guimarães, e o estudante, Patrick
Sapucaia, 16, que seria filho de PM aposentado, foram executados dentro de uma
casa abandona, logo na entrada da comunidade.
"Entrei lá,
tinha poça de sangue na sala, no quarto e no banheiro. Era muito sangue. Ou
seja, cada lugar estava um corpo. Como é que foi troca de tiros? Não existe
isso. Sem falar que os três estavam em um bar quando foram levados a força
para dentro da casa. Depois, os outros policiais foram até a casa e começaram a
limpar tudo com água corrente", contou ela.
Alexandre dos Santos morreu baleado em ação da PM na Gamboa fotos redes sociais |
Apesar do relato dos
detalhes, peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) que estiveram no
local disseram que diversas pessoas entraram no imóvel, o que dificulta chegar
à dinâmica dos fatos.
"Muita gente
entrou na casa, encontramos cápsulas dentro de sacos com os próprios moradores.
Ou seja, muita coisa foi alterada. Mas coletamos três vestígios respingos de
sangue em três pontos distintos que serão analisados para se descobrir se são
das mesmas pessoas", declarou um dos peritos.
Questionado se houve
modificação do cenário e se os vestígios apontam para uma troca de tiros, o
perito respondeu: "A princípio, não encontramos nenhum local lavado. Como
disse, muita coisa foi mexida e isso altera, e muito, o nosso trabalho para
chegar à dinâmica do fato."
Ainda na escadaria,
Luciana mostra os arranhões nas pernas de quando implorou para a polícia não
levar o sobrinho. "Pedi de joelhos para não levarem meu sobrinho, mas
apontaram a arma pra mim também", disse ela.
Familiares e moradores fizeram protesto. Foto: Reprodução G1 |
Luciana disse que
estava em casa quando ouviu os gritos da mãe de Alexandre, Silvana dos Santos,
48, que na hora tentava também pedir que o rapaz fosse colocado no
porta-malas de uma viatura. "Quando vi aquele cena, eles sendo arrastados
no chão, todos cobertos de sangue, me ajoelhei e pedi:'Pelo amor de Deus, não
levem o meu sobrinho', mas um policial botou a arma na minha cara, assim como
fez com a mãe de Alexandre", contou Silvana.
Até o início da
tarde, os parentes de Patrick e Cauã não apareceram na Gamboa e nem no
Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN) para a liberação dos corpos.
PM diz que foi
recebida a tiros
Em nota, a Polícia Militar diz que foi acionada na madrugada desta terça-feira
(1) com informações sobre a presença de homens armados na Avenida Lafayete
Coutinho.
Segundo a PM, os
policiais foram reecbidos a tiros e deram início ao tiroteio. "Após o
revide e posterior progressão no terreno, as equipes encontraram três homens
caídos ao solo em posse de armas de fogo e drogas. Já os outros suspeitos
conseguiram fugir. Os feridos foram socorridos pela guarnição para o Hospital
Geral do Estado (HGE), onde não resistiram", diz o comunicado.
"Durante a
prestação de socorro, manifestantes jogaram entulhos, obstruíram a pista em
ambos sentidos e hostilizaram as guarnições. O policiamento foi reforçado na
região com o apoio de outras unidades", narra a PM.
Foram apreendidos no local em posse dos três suspeitos um revólver calibre 38; duas pistolas, sendo uma de calibre .40 e outra de calibre 380; 177 papelotes de maconha; 233 pinos e dez embalagens de cocaína; 130 pedras de crack; três aparelhos celulares; uma balança eletrônica, R$ 172,00 em espécie e um relógio de pulso. O caso está sendo investigado pela corregedoria da PMBA.
Foto da capa: Bruno Wendel CORREIO
Veja lista de entidades que assinaram a nota de repúdio, conforme
informações do G1:
- Artífices da Ladeira da Conceição da Praia
- Associação Amigos de Gegê dos Moradores da Gamboa de Baixo
- Centro Cultural Que Ladeira é Essa?
- Movimento Nosso Bairro é 2 de Julho
- Movimento dos Sem Teto da Bahia (MSTB)
- Coletivo Vila Coração de Maria
- Grupo de Pesquisa Territorialidade, Direito e Insurgência (UEFS)
- Grupo Margear- Faculdade de Arquitetura da UFBA
- SAJU- Serviço de Apoio Jurídico da Faculdade de Direito da UFBA
- MLB
- Coletivo Resistência Preta
- Coletivo Trama
- Campanha Zeis Já
- Observatório da Mobilidade Urbana de Salvador
- Residência AU+E (FA-UFBA)
- Grupo de Pesquisa Ecologia Política, Desenvolvimento e Territorialidades (PPGTAS-UCSAL)
- Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU)
- Grupo de Pesquisa Territórios em Resistência (PPGTAS-UCSAL)
- Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM)
- Grupo de Pesquisa Lugar Comum (PPGAU-UFBA)
- IDEAS - Assessoria Popular
- CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço
- GAMBÁ – Grupo Ambientalista da Bahia
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