Jacson Santos Pereira
e Analice de Jesus dos Santos, de 33 anos, foram detidos nesta terça-feira
(24/11) em Itaberaba, a 264 km de Salvador. Eles são acusados de estuprar e
filmar os abusos sexuais cometidos contra as próprias filhas no bairro do
Lobato, Subúrbio Ferroviário de Salvador. A prisão acontece quatro dias
depois de a situação ter sido denunciada pelos repórteres Jean Mendes e Beatriz
Bulhões, do Aratu On. Jackson é pai de uma menina, que
identificaremos como Amanda*, e Analice é mãe de uma outra garota, dois anos
mais nova, que chamaremos de Carol*. Ao iniciarem um relacionamento, os dois
começaram a estuprar as crianças.
De acordo com o
titular da 12ª Coorpin / Itaberaba, delegado Geraldo Adolfo, Jackson foi
encontrado primeiro. "Ele foi localizado em uma pedreira, na zona rural.
Diante das provas apresentadas, terminou confessando seu verdadeiro nome. A
companheira foi localizada em uma região próxima e ambos tiveram os mandados
cumpridos", detalhou.
Em nota, a Polícia
Civil informou que os mandados de prisão preventiva estavam em aberto desde a
época em que os crimes foram denunciados, em 2019. A redação do Aratu
On apurou, entretanto, que embora as investigações tenham começado em
dezembro do ano passado, quando os pendrives com os vídeos dos abusos foram
entregues na Delegacia Especializada de Repressão a Crime Contra a Criança
e o Adolescente (DERRCA), os mandados de prisão contra eles só foram emitidos
em abril deste ano, após acompanhamento quase que diário da equipe de
reportagem.
RELEMBRE O CASO:
Os crimes aconteciam
na casa onde a família morava, no bairro do Lobato. Amanda*, que hoje
tem 17 anos, voltou a viver com a mãe há cerca de dois anos, mas não conseguia
denunciar os abusos cometido pelo próprio pai. "Eu tenho um namorado
e não conseguia ter relações com ele, porque eu me sentia estranha. Ele
perguntava e eu tinha medo de contar. Um dia, eu falei. Ele me prometeu que não
iria contar pra ninguém, mas quando soube do ocorrido, me incentivou a contar
pra minha mãe e procurar a polícia", relata a filha de Jacson Santos
Pereira.
A mãe dela, Girlene
da Anunciação de Jesus, foi quem denunciou à polícia e contou ao pai de
Carol*, hoje com 15 anos, o que acontecia. A meia-irmã não sabia, mas a mais
nova continuava sendo abusada pelo padrasto e pela mãe, tendo sofrido
um aborto no começo de 2019.
Ao tomar conhecimento
do crime, o gari Alessandro Pereira Santos trouxe a filha para morar com ele.
"Eu perdi o chão [quando recebeu a notícia], sendo sincero. Você criar
filho para marginal fazer o que bem quiser e achar que vai ficar por isso
mesmo, não vai ficar. A mãe dela fez isso e não vai ficar assim",
desabafou o pai.
As meninas contam, em
detalhes, como tudo aconteceu. "Na primeira vez, ele disse que iria me
ensinar como fazia e mandou a minha irmã mais nova fazer sexo oral nele.
Depois, disse que era minha vez, mas eu não entendi", lembra Amanda.
O suspeito lhe dava presentes, como celulares caros, e ela não entendia o que
acontecia. "Eu sentia amor de pai por ele. Hoje em dia, isso dói demais em
mim e me arrependo de ter desobedecido minha mãe, porque eu sentia muito amor
por meu pai. Depois que perdi a virgindade com ele [Jacson], foi à minha casa,
disse que eu tinha me ‘perdido’ com um menino, só que era mentira. Minha mãe
disse que não tinha visto nenhum namorado meu. Eu me sentia triste demais.
Quase entro em depressão", conta.
Apenas quando fez 15
anos teve coragem de voltar para a casa da mãe, apesar das ameaças que sofria.
Ela conta que sua mãe adotiva, Analice, dizia que coisas ruins aconteceriam com
Jackson caso ela contasse para alguém, o que fez com que ela tentasse apagar as
memórias e evitar o assunto.
Carol, inclusive, já
havia tentando suicídio. O pai biológico dela, Alessandro, conta que ficou
assustado e perguntou várias vezes a filha o que a levara a tomar veneno, mas
ela desconversava e dizia sentir ciúmes dele, por ter outro filho. "Me
relacionei com minha mãe, minha irmã e com Jacson ao mesmo tempo. Todo mundo
junto", lembra ela.
Foi Carol, também,
que engravidou do padrasto. "É estranho. Eu vinha enjoando, enjoando e
minha mãe comprou um teste. Me levou para fazer um ultrassom e o bebê tinha
dois meses. Ele comprou uma 'garrafada' e não resolveu. Depois de uma semana,
ele comprou remédios para aborto. Colocou seis em mim. Depois, o feto desceu já
grande", contou.
Agora, Jackson e
Analice estão à disposição do Poder Judiciário. Os dois estão detidos na
carceragem de Itaberaba e devem ser transferidos para um complexo penal.
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