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Recôncavo: população põe fogo em entrada de ponte após jovem ser morto pela polícia

 


Rapaz negro de 23 anos era barbeiro em São Félix e sua morte gerou manifestações. Moradores também fecharam outras duas entradas da cidade

 

Um jovem foi morto a tiros durante uma ronda de policiais militares na madrugada deste domingo (6), na cidade de São Félix, na região do Recôncavo. A vítima, identificada como Davi Oliveira, de 23 anos, trabalhava como barbeiro e o caso mobilizou a população do município. Revoltados, moradores colocaram fogo em pneus na entrada da Ponte Dom Pedro II, a histórica via que liga à cidade de Cachoeira. O prefeito de São Félix, Alex Aleluia (DEM), emitiu nota lamentando a morte de Davi.

 

A polícia disse ter encontrado arma e drogas com ele, mas a família nega o envolvimento do jovem com o crime. Davi tinha duas barbearias, deixou esposa e um filhinho de um ano. 

 

De acordo com a Polícia Militar, policiais da 27ª CIPM (Cruz das Almas) estavam realizando rondas no município quando teriam se deparado com dois indivíduos numa moto. Ao perceber a aproximação da viatura, a dupla teria efetuado disparos contra a guarnição, que revidou. A PM disse que, ao fim dos tiros, um homem foi encontrado caído no chão e levado para o Hospital de São Félix, onde foi constatado o óbito. 

 

Com ele, os militares disseram ter encontrado um revólver, dois tabletes de maconha, sete trouxinhas da mesma droga, 153 pinos vazios para acondicionar cocaína e a própria moto que usavam. A ocorrência foi registrada na Delegacia de Cruz das Almas. Por telefone, o CORREIO tentou contato com a unidade para entender detalhes do fato, mas não teve retorno.

 


Barbearia Três Irmãos

Davi era o filho do meio de uma família de três irmãos. O amor pelos familiares deu nome ao seu estabelecimento: Barbearia Três Irmãos. A irmã mais velha dele, Geisa Oliveira, conta que Davi aprendeu a profissão de barbeiro com o pai, ainda aos 11 anos. "Meu pai ensinou a ele antes de falecer e a cada ano ele ia se aperfeiçoando. Ele fez cursos, se empenhou bastante, tem diploma. Ele deu um ponto pro nosso irmão trabalhar, não cobrava nada dele. O que eles ganhavam, era deles. Ele não tinha nada nas mãos era humilde", conta ela.

 

Para a irmã, a droga e a arma foram implantadas na mochila de Davi. O dinheiro que ele havia ganhado trabalhando no sábado, dia de grande movimento na cidade, não foi entregue à família. "Ele ganhava muito bem, comprou carro, comprou casa, comprou dois pontos de barbearia. Meu irmão era gente de bem", assegura ela. A família morou grande parte da vida no Bairro 135 e recentemente Davi tinha comprado um ponto da sogra no centro da cidade.

 


"A esposa dele está desolada, ainda não acredita em nada disso. O filhinho de um ano, coitado, era apegado demais ao pai. Ele era extrovertido. Brincava com todos, era humilde. É muita revolta", completa a irmã. "Ele estava com um amigo de moto, o amigo correu e ele ficou e eles ainda mataram meu irmão. Não sei o que ganham tentando incriminar uma pessoa. Meu irmão nunca usou drogas, nunca chegou em casa atormentado por isso", conclui.

 

Um morador contou que Davi era querido por muita gente, tido como um rapaz de boa conduta, o que levou a população a ir até a frente da delegacia da cidade, com cartazes pedindo paz e esclarecimentos sobre a morte. As manifestações foram ainda mais intensas, com o fechamento das entradas da cidade, tanto via Muritiba quanto no Bairro 135, na estrada que dá acesso à BR-101. Túneis de desinfecção e lavatórios de combate à covid-19 também foram incinerados.

 

Através de nota em rede social, a Associação de Moradores, Pescadores e Aquicultores do Bairro 135 (Asmopes) emitiu pesar pela morte de Davi e disse que toda a comunidade está em choque. A Asmopes lembrou dele como “um menino bom, divertido e cheio de sonhos” e pediu ainda pela apuração dos fatos e justiça para o caso.

 

“Recebemos de forma estarrecedora a triste notícia da morte de um jovem, negro, trabalhador que lutava dia a dia para tirar seu sustento e de sua família através da prática do corte de cabelo. Por ironia do destino, ou falta de preparo de alguns, Davi foi brutalmente assassinado ao voltar de mais um dia de trabalho”, escreveu a entidade. O sepultamento do jovem reuniu mais de 200 pessoas.

FONTE: CORREIO 24 HORAS



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