Uma
amiga da moradora do Paranoá também morreu, vítima do bando. Ela tinha 22 anos
e trabalhava num escritório de advocacia do DF
Uma das vítimas
do grupo desmantelado na operação deflagrada nesta quarta-feira (29/9),
acusada de estimular o suicídio de jovens na Dark Web e em grupos de Telegram e
do WhatsApp, é uma gamer, de 21 anos, moradora do Paranoá. A segunda é amiga
dela, de 22, que também residia na região e trabalhava em um escritório de
advocacia de Brasília. O bando auxiliava as pessoas a cometer o autoextermínio,
conversando e indicando medicamentos e dosagens certas para a prática do ato
extremo.
As apurações
da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) foram iniciadas há sete
meses, quando a primeira vítima faleceu. “Apreendemos o aparelho celular e o
computador dela. Após as investigações iniciais, nós identificamos que ela
fazia parte do grupo CTBus (catch the bus, expressão em inglês utilizada para
se referir ao cometimento de suicídio). Com posse das mensagens, chegamos ao
núcleo do grupo num site internacional e verificamos que eles convidavam as
pessoas a participar de outros grupos no território nacional”, explicou o
delegado-chefe da 6ª DP, Ricardo Viana, responsável pelo caso.
Foto: Reprodução do Metrópoles
Três investigados
foram presos. Dois em São Paulo e um em Goiânia. Há um quarto homem foragido,
no Rio de Janeiro. Mandados de prisão e busca e apreensão foram cumpridos no
Distrito Federal, em Goiás, no Rio de Janeiro, na capital e no interior
paulista.
O Metrópoles apurou
que, na casa de um dos investigados, no estado de São Paulo, foram apreendidos
um frasco com nitrito de sódio, celulares e computadores. Os mandados foram
cumpridos com auxílio da polícias Civil de SP, do RJ e de GO.
Segundo Viana, o
grupo era acolhedor e demonstrava afeto, o que, muitas vezes, a vítima não
tinha dentro de casa ou no convívio com amigos. “Quando as pessoas começavam a
falar sobre o que sentiam, eles agiam de forma muito organizada. Receitavam a
substância, dosagem de acordo com o peso e a idade da vítima e a forma de não
sentir dor. Receitavam também um remédio para que as pessoas não vomitassem a
medicação para que o procedimento desse certo”, acrescentou.
A gamer de 21 anos
teria começado a conversar com o grupo criminoso dois meses e meio antes de
tirar a própria vida. “Eles davam dicas de como as pessoas poderiam tentar o
autoextermínio. Identificamos outras três vítimas que faleceram antes da jovem
do Paranoá e, depois de um mês de investigações, ocorreu a morte da amiga da
vítima, com a mesma substância”. A PCDF, porém, apura se esta segunda jovem
fazia parte do mesmo grupo.
Apesar de os
integrantes induzirem as pessoas à morte, nenhum membro chegou a praticar
aquilo que pregava. “Eles não provavam daquilo que prescreviam. Apesar de o
discurso ser o de que todos no ambiente virtual sentissem a mesma dor, as
pessoas estavam morrendo, e o grupo estava ficando. Uma apuração surpreendente
para todos os envolvidos na apuração”, detalha o delegado.
O operação foi
batizada de Methylene Blue, em referência a uma das substâncias recomendada
pelo grupo. “As equipes ainda estão fora do DF. O que sabemos é que o grupo
ainda está em exercício”, disse Viana. “Vamos mapear o que eles fizeram antes e
depois desse registro. Queremos investigar quantos membros existem na
organização, se outras pessoas entraram ou saíram do grupo para saber se há
outros envolvidos”, complementou.
Foto: Reprodução do Metrópoles |
Busque
ajuda
O Metrópoles tem
a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que
ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema
debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla
outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas
pessoas a se matarem.
Depressão,
esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados
pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e
evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
Está passando por um
período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A
organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo
voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar,
sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.
Crédito da imagem da capa: Foto de Mary Taylor no Pexels
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