“Só vi meu sangue escorrendo pelo
chão”, diz sobrevivente de ação policial na Mata Escura
“Não escutei tiros, só vi meu sangue escorrendo pelo chão”. Foi assim
que Alberto Bispo, 62 anos, relatou a experiência de ser baleado na perna. O
sobrevivente de uma ação policial ocorrida no bairro da Mata Escura, em
Salvador, na noite de terça-feira (28/2), foi entrevistado pelo repórter Jean
Mendes, durante ao vivo para a Cidade Aratu. Segundo Alberto, ele saia de
casa para comprar temperos, quando foi surpreendido por uma equipe da Polícia
Militar que “já chegou atirando”.
“Fiquei confuso, não entendi o que tinha acontecido, corri até um
corrimão e me segurei nele. Continuei sentindo dor. Depois, fui mancando até um
degrau, onde sentei e vi muito sangue escorrendo da minha perna”, narrou o
pescador, que mora no bairro a mais de 50 anos. “Me socorreram, levaram para o
Hospital Roberto Santos. Lá no hospital ainda me confundiram com algum bandido,
mas depois tudo foi esclarecido”, detalhou.
A vítima recebeu alta hospitalar na manhã desta terça-feira (1/3) e
já se encontra em casa, onde recebeu a equipe da TV Aratu. Durante a conversa,
a vítima lembrou ainda que a versão da PM falava sobre troca de tiros entre
facções não é verdade. Segundo a polícia, ele e outro morador já estariam
baleados quando as guarnições chegaram no local. O sobrevivente nega que
tenha sido dessa forma.
“Não teve briga de facção nenhuma. Eu e ele (Jucimario) estávamos
na rua, senti o formigamento e depois olhei para meu colega no chão, ele fazia
sinal de rendição.” Mesmo rendido, Jucimario teria sido atingido na cabeça. O
rapaz também foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Na manhã desta
quarta-feira, (01/03), familiares e amigos das duas vítimas realizaram
manifestações na Avenida Cardeal Brandão Vilela, principal do bairro da Mata
Escura, onde queimaram pneus e levaram palavras de ordem pedindo transparência
e justiça.
JUCIMARIO
Jucimario Ferreira Santos, ou “faca”, como era conhecido
carinhosamente pelos moradores da região, era vendedor ambulante e amigo de
Alberto. Dona Marlene, esposa da vítima, detalhou o sentimento que fica, após a
morte de seu companheiro, o qual era casada há 15 anos. “O coração está muito
doloroso, faço diversos tratamentos médicos, nesse momento, é Deus que está me
segurando aqui. Ontem passei mal, quem me resgatou foram meus vizinhos”,
relatou.
Marlene ainda informou que Jucimario era muito querido, tinha
diversos amigos, e sempre prezou por tratar bem a todos. “Ele nunca foi
envolvido com nada, eu estou com ele há 20 anos ao todo, nunca se meteu em
coisa errada”, afirmou. Segundo ela, seu marido estava encostado no muro de
casa e tinha acabado de sair para tomar um gole de cachaça do lado de fora da
residência, quando foi atingido. Foto do casal
Foto: Reprodução - Arquivo pessoal
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